O amor não é cego, mas gosta de ser enganado.

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Tem muita gente que sabe que está sendo enganada. Já outros, apenas desconfiam. Por último, tem uns que sequer percebem sinais de alerta (que às vezes estão mais para sirenes vermelhas gritantes) no relacionamento, e se surpreendem quando este termina de forma trágica. Aí, depois de a bomba explodir, essas pessoas olham para trás e se perguntam estarrecidos como não perceberam tudo o que estava acontecendo por meses/anos, e sentem como se uma grande venda invisível fosse retirada dos olhos depois de muito tempo de enganação.

Você já passou por isso?

Quase todos nós já passamos por situação semelhante, portanto, não precisa se envergonhar. Existem muitas explicações para essas “cegueiras do amor”, e hoje vou falar de duas que são bem comuns:

Intimidade:
Quando conhecemos bem uma pessoa, geralmente sabemos quando ela está mentindo. A mentira causa um estresse mental, que faz com que o nosso comportamento mude quando falamos algo que não é verdade. Logo, quanto mais conhecemos uma pessoa, mais sabemos as suas “caras e bocas” normais. Por outro lado, se essa pessoa for uma mentirosa “profissional” o jogo pode virar: por te conhecer bem também, ela vai saber quando você está suspeitando da mentira. Pessoas que mentem muito tendem a pegar esses sinais de suspeita e se adaptar a eles. Além disso, o estresse cognitivo causado pela mentira diminui com a prática do ato. Mentir é uma “habilidade” como qualquer outra, então quanto mais se mente, mais natural e mais fácil fica mentir, justamente pela diminuição do nível de estresse pela prática.

Dissonância cognitiva:
Muitas vezes não queremos ver o que está gritante de óbvio simplesmente porque a verdade não é conveniente para nós. Quando gostamos de alguém, fazemos de tudo para manter uma imagem impecável desta pessoa. Então, quando algo errado aparece, tendemos a diminuir a importância deste detalhe ou nos cegar ao fato completamente, pois essa “mancha” na imagem do amado causa a chamada dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva é um “desconforto mental” causado por duas ideias ou valores que são contraditórios. Fazemos isso com muitas coisas e pessoas em nossa vida, inclusive com o nosso amado(a). Na terapia, a dissonância cognitiva é muito trabalhada (ou encarada).

Independente de como e do motivo de você ter sido enganado, é bom lembrar que a culpa nunca é sua por ter acreditado em seu parceiro. Jogar o peso da situação para si não é a solução. Um dos mais importantes trabalhos da terapia é justamente abrir nossos olhos para situações que podemos mas não queremos ver, evitando assim situações semelhantes no futuro.

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Tentado a trair? Pare e pense antes

Não estou aqui para julgar ninguém. Todos sabemos que traição não é a melhor decisão do mundo. O texto que escrevi anteriormente me fez querer focar esse texto em algo que vejo repetidamente na clínica: A traição, e como você pode estar enganando não apenas o seu parceiro, mas você também.

No texto anterior tratei de paixão dentro do relacionamento oficial, e como ele declina com o tempo, o que é natural, e citei as causas. Também mencionei que é justamente quando essa paixão sofre uma queda que a traição pode vir a ocorrer. No entanto, os parceiros que traem nem sempre estão muito cientes do que está ocorrendo com eles mesmos, e como a paixão pode enganar uma pessoa.

Vamos por partes:

A maioria das pessoas que traem não amam as pessoas com quem elas tem um caso. Falei sobre o mistério de uma pessoa nova no post anterior, e também de como toda essa situação de “amor” proibido causa uma liberação de neurotransmissores (dopamina). E também falei sobre a idealização de um ser que a gente não tem ou conhece por completo. Pois é, tudo cabe aqui. O que vejo muito é que as pessoas estão apaixonadas não pela pessoa com quem elas estão tendo um caso, mas sim com uma figura idealizada dessa. Toda pessoa nova traz sentimentos fortes que fazem com que pensemos que ela que é o amor da nossa vida. Com o tempo, alguns pulam para um outro caso, porque viram que não é aquilo que estão procurando, somente para cair em outro jogo com o desconhecido, que libera novas sensações fortes, e por aí vai.

Além da idealização, há uma questão de alimentar o “ego”, já que a outra pessoa também te idealiza, então toda essa atenção faz a gente se sentir especial. A maioria das pessoas que entram em uma relação extraconjugal se sentem especiais (afinal, para que um caso com alguém para se sentir menos especial?), e sentem que estão recebendo mais atenção.

O que eu quero dizer com tudo isso é que a maioria das pessoas que acabam tendo um relacionamento extraconjugal não estão amando a nova pessoa, mas sim o que está ocorrendo com elas mesmas. Muitas vezes é uma questão interna, de validação e autoestima. Portanto, antes de ceder às tentações, ou até mesmo caso já esteja em uma relação fora do casamento, considere em consertar o relacionamento por terapia individual ou de casal.

Paula Monteiro
Psicóloga Clínica
psicologapaulamonteiro @ gmail.com
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Amor, paixão e romance

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Já escrevi aqui sobre como nós mudamos conforme o relacionamento caminha, e como começamos a desvalorizar as pequenas coisas. No entanto, gostaria de aprofundar esse tópico, agora fazendo uma comparação entre amor, paixão e o romance.

Quando nos apaixonamos por alguém, muitas vezes dizemos que foi “amor à primeira vista”. Eu diria que foi paixão à primeira vista, e que, com sorte, virou ou poderá virar um amor.

Aquele êxtase que sentimos quando nos apaixonamos, por mais que sonhemos que com a pessoa certa será eterno, não será. Não estou falando dos sentimentos amorosos, mas sim daquela paixão forte, que derruba a gente como uma onda gigante. Essa onda, inevitavelmente irá diminuir. Pode não quebrar e sumir, mas com toda certeza diminuirá.

Aí você me pergunta: Mas por quê? Por que o romance sempre diminui com o tempo? O romance CONSUMIDO sempre diminui com o tempo porque o “barato”, aquela sensação forte que sentimos é dada pela incerteza da continuidade desse romance e pelo fato de o seu “objeto de adoração” ser ainda não completamente conhecido. Curiosamente, a única forma de manter um romance tão forte eternamente é em um amor não-correspondido, seja a pessoa próxima ou até mesmo um ídolo/celebridade.

“If only the strength of the love that people feel when it’s reciprocated could be as intense and obsessive as the love that we feel when it’s not, then marriages would be truly made in heaven” – Ben Elton

(Tradução não-literal: Se a força de um amor que as pessoas sentem quando é correspondido fosse tão intenso e obsessivo quanto um amor que sentimos quando não é, casamentos seriam perfeitos)

Infelizmente, conforme conhecemos nosso parceiro, isto é, o romance vai sendo consumado, nosso êxtase diminui. Deixamos de ver nosso parceiro como uma pessoa perfeita, idealizada, e passamos a vê-lo como uma… pessoa. Quando a “caça” cessa, e o relacionamento se torna estável, tudo muda, incluindo os hormônios. A “onda” da dopamina cede e abre espaço pra ocitocina, agora sim, o hormônio do amor. Os laços se tornam reais e não idealizados. A paixão ardente se torna um lugar seguro e confortável (quando o relacionamento é saudável, claro)… Mas infelizmente nem todos nós conseguimos ver essa mudança como algo positivo, e por motivos óbvios: além dos sentimentos de êxtase de um “amor” novo serem muito bons, a mídia retrata desde sempre paixão como amor.

Vamos voltar um pouco no tempo: No romantismo, como era retratado o “amor”? A mulher era um objeto idealizado, distante. Pense em Romeu e Julieta; o amor deles era amor adolescente, com muitas barreiras, e nunca puderam realmente viver uma vida em casal. Com toda certeza, a história seria diferente se eles tivessem se casado e a história seguisse por mais dez anos.

E nos filmes de hoje? E nas séries? O que podemos ver de “amor”? Geralmente é o encontro de duas pessoas, elas se conhecem e geralmente os filmes terminam em o quê? Em casamento, que seria a conclusão desse período de êxtase, de mistérios, surpresas, de inseguridade e de idealização. Há uma clara desvalorização e confusão sobre o tema amor. As pessoas acreditam que o êxtase durará para sempre, e que esse êxtase (ou as famosas borboletas no estômago) é o maior sinal de amor.

Então, o que acontece na vida real por causa desses exemplos tão não realistas de amor? Quando a paixão cessa e o amor de verdade, que a vida real em dois, se instala e se estabiliza, muitas pessoas acreditam que o relacionamento está morrendo, ou que até o parceiro perdeu o interesse. É nesse momento que o perigo de uma traição mais aparece, justamente porque uma pessoa nova sempre trará mais êxtase (novamente, temporário) que um parceiro atual, por ser uma pessoa não completamente conhecida, um ambiente em que o amor é proibido (adultério).

Em textos futuros falarei sobre como trazer o fator surpresa de volta ao relacionamento. Mas isso não é a cura para a idealização do amor, é apenas uma ajuda dar uma sacudida na “rotina”. A cura é ver que por mais que o romance e a paixão sejam maravilhosos, eles são efêmeros, e que se você estiver com a pessoa certa, o amor verdadeiro é muito bom também, e duradouro.

Paula Monteiro
Psicóloga clínica
psicologapaulamonteiro @ gmail.com
(21) 99742-7750

Traição: Quando perdoar?

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Não estou aqui para dizer o que é certo ou errado, e quais são seus limites. Se você não aceita nenhuma traição e quer sair do relacionamento, esse texto não é para você. Estou escrevendo para quem se pergunta se realmente vale a pena dar uma (ou mais uma) chance.

O mais grave da traição não é o ato sexual, mas sim a quebra de confiança que a traição causa. Muitas vezes essa quebra de confiança não consegue ser ultrapassada, e o término acontece. Só amor não é o suficiente para manter um relacionamento, precisa haver confiança. Confiança é a cola do relacionamento.

Relacionamentos envolvem promessas: promessa de que você está com uma pessoa e mais nenhuma outra (no caso dos relacionamentos fechados). Quando essa promessa é quebrada, a confiança se desintegra. Sem confiança, a intimidade e a comunicação acabam. O casal acaba se distanciando. Hostilidade toma o lugar do carinho, e o relacionamento aos poucos se torna tóxico, e pode vir a acabar. Porém, se ambas as partes quiserem, a reconstrução do relacionamento PODE ser atingida, especialmente com a ajuda de terapia, que, nesse caso, se vê muito necessária. A terapia ajuda trabalhando nos problemas de comunicação, na confiança quebrada, na mágoa e na raiva causadas pela traição.

Para a reconstrução de um relacionamento, todas as cartas devem ser postas na mesa. Traição é um problema do casal, não de somente uma das partes. A verdade deve ser dita, por ambas as partes. Quem traiu não deve esconder o que fez, o motivo que levou a fazer isso (isto é, o que lhe falta no relacionamento) e aceitar sua culpa, assim como quem foi traído deve dizer o que precisa para sua confiança no parceiro voltar. A confiança não irá voltar facilmente, nem deve. O parceiro traído foi manipulado e escutou mentiras. A confiança deixa de ser garantida e cega para ser ganha, aos poucos; é um processo lento, que requer trabalho e dedicação.

Mas, quando é que todo esse esforço é realmente necessário? As chances de um casal ficar bem após uma traição são razoáveis, com o esforço de ambos, caso estejam interessados. Mas o que falar de múltiplas traições? E de traições que foram descobertas pelo parceiro, e não admitidas pelo outro? O ponto que quero chegar aqui é que vejo muitas vezes no consultório situações em que a “vítima” se cega para a realidade. O amor realmente cega às vezes. Qual é a responsabilidade da vítima numa situação assim? Uma das coisas mais difíceis de se fazer é olhar para si mesmo e ver qual parcela de culpa temos por nos colocar nas situações que acontecem conosco. Será que o parceiro nunca mostrou nenhum sinal infidelidade antes ou nós é que tampamos nossos olhos até o último instante? O que essa situação toda diz sobre nós mesmos? O que faz nós irmos ao consultório para “nos consertar”, para aceitarmos uma relação de monogamia repetidamente desrespeitada? O que nos impede de olhar para fora da relação e ver uma nova vida? É o medo de ficar sozinha(o)? É por causa do “bem” da família? É a incerteza do futuro? Essas são perguntas importantes que devem ser respondidas antes de dar mais uma chance a parceiros que traem repetidamente. A habilidade de perdoar é algo louvável, mas nem sempre é a solução.

Paula Monteiro
Psicóloga clínica
psicologapaulamonteiro @ gmail.com
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