Run (2020) – Um filme que “meio” que aborda um assunto delicado e importante

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Quando comecei a escrever o texto sobre esse filme, contei a história toda dele, e, obviamente, era só spoiler. Então decidi mudar – deletei. Não vou contar tudo, até porque o filme não precisa ser interpretado, ele é bem claro em sua mensagem. Run conta a história de uma mãe, Diane, que controla a filha Chloe de uma forma sutil (pelo menos no começo) e doentia. Resumidamente, Run conta a história de uma menina que sobrevive e foge de uma mãe cruel.

O assunto delicado é justamente esse: mães ruins. Vocês já perceberam em quantos filmes o pai é ruim? Tios? Irmãos? Outros familiares? Parece que todos podem ser ruins, menos a mãe. Se mulheres vilãs já são poucas em longas (felizmente isso tem mudado – aliás, recomendo o filme Gone Girl), mães vilãs são EXTREMAMENTE raras. Essa falta de representação não é nada além do reflexo do nosso pensamento como sociedade. Mães são constantemente postas em um pedestal, são sempre santas. Mas será que é essa a realidade? Será que a maternidade traz mesmo a santidade?

É óbvio que muitas, mas muitas mães são maravilhosas (assim como pais, tios, sobrinhos, irmãs, etc), mas, como qualquer outra categoria de ser humano, mães também podem ser ruins. Quando alguém fala que não gosta da mãe, ou que a mãe lhe faz mal, boa parte das pessoas não acredita ou aceita, é quase como se fosse a confissão de um pecado. Os críticos ouvintes podem não apedrejar (as pedras não são físicas), mas pode ter certeza que quando essas pessoas se abrem ou tem de relatar algo, frases como “mas ela é sua mãe”, “mãe é só uma”, “ninguém nunca vai te amar tanto quanto sua mãe” doem na alma tanto quanto um linchamento. Além do julgamento constante, se a vítima não for extremamente firme em sua noção de realidade e de vivência, ela pode sofrer uma forma de gaslighting (mesmo que não proposital) pelo grupo. Pessoas apontando o dedo para a vítima dizendo que talvez ela seja ruim não é nada incomum (especialmente se a mãe está fazendo campanha difamatória ou se vitimizando), além da constante repetição da famosa frase “quando ela morrer, você vai se arrepender”. É uma previsão do futuro que muitas vítimas carregam por anos até se libertarem.

Trazer a ideia de uma mãe má para as telas, para mim, é mais do que necessário. Aliás, Diane faz uso de frases que muitas dessas mães adoram, como “estou fazendo isso para o seu bem” e “como é que você pode achar que eu faria algo de ruim para a minha filha?”. O filme mostra bem essa manipulação por conta do poder materno. Chloe, por fim, consegue entender o que está acontecendo e se livra de sua prisão, mas existem muitas “Chloes” na vida real que ainda estão presas às suas mães manipuladoras.

Aliás, agora psicologizando, acho que a cadeira de rodas e todas as condições que a menina sofre podem ser vistas como simbólicas. Nem todas as Chloes da vida real estão presas a uma cadeira de rodas, mas muitas vezes são condicionadas a acreditar que a condição (psicológica, de vida, etc) que elas têm é para todo o sempre, assim como alguém com paralisia das pernas. Chloe (a do filme) começou a caminhar depois de se livrar de Diane. Não é uma questão de milagre, no entanto. No final do longa, passados anos, ela ainda está se recuperando. Na vida real também podemos ver isso: é um trabalho árduo para se levantar e caminhar com as próprias pernas depois de décadas de manipulação materna, mas tenha certeza que vale muito a pena. A liberdade (seja física ou psicológica) não tem preço.

E por que eu coloquei no título que o filme “meio” que aborda o assunto? Porque (perdoem-me, spoiler) acaba-se descobrindo que Diane não é a mãe biológica de Chloe; ela foi roubada na maternidade. O interessante é que esse detalhe final é completamente “extra” na história. O filme continuaria a MESMA coisa se esse fato não viesse à tona. Não sei se adicionar isso foi uma tentativa consciente de não causar alvoroço da audiência, ou talvez até mesmo inconsciente. Nunca saberemos.

Enfim, termino esse texto um questionamento para quem assistiu o filme:
Como é que ela tinha uma impressora 3D que funcionava sem computador?

Brincadeiras à parte, o filme é bom.

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Ratinhos, jogos de azar e relacionamentos abusivos

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Se você já ouviu falar de Skinner e seus trabalhos em condicionamento, você deve ter ideia do conceito de reforço. Reforço é algo dado (ou retirado, nos casos de reforço negativo, mas não vamos falar sobre isso aqui) que “alimenta” um comportamento, deixando-o com mais chances de ocorrer. Vamos pensar em um ratinho: o ratinho descobre que, quando pressiona um botão/alavanca/etc, ele recebe comida. Sendo assim, ele vai associar aquele botão com comida, e toda vez que estiver com fome, o pressionará. Se a comida cair toda vez que o ratinho pressiona o botão, isso é chamado de reforço contínuo.

Mas o que acontece quando esse reforço só aparece de vez em quando? Ao invés do ratinho perder interesse no botão, ele ficará mais obcecado com ele. Acha parecido com o vício em jogos de azar? Pois você está correto. É justamente o fato de você não saber quando você vai ganhar que te prende ao jogo. Esse reforço sem previsão é chamado reforço intermitente, e é altamente viciante. Pense numa raspadinha: num dia você não ganha nada, nem no outro, nem no outro… e aí daqui a pouco você ganha R$5. Bom, já que você ganhou R$5 (deixando de lado que você já perdeu uns R$50), é bem possível ganhar aquele prêmio de R$100 mil, certo? E aí você continua, e continua… E todo pequeno prêmio parece uma vitória muito mais simbólica do que todo o dinheiro que você já perdeu. É uma cegueira em relação a todo o lado negativo por conta daquele curto período positivo.

E por que isso acontece? Porque nosso cérebro libera dopamina toda vez que recebemos um reforço. Não somente isso, mas o cérebro libera muito mais dopamina quando este reforço não é contínuo. Biologicamente falando, para a sobrevivência, dar mais valor para algo que não é contínuo faz muito sentido: não precisamos dar muita atenção ao que ganhamos sempre, pois está garantido. Precisamos focar no que não vem sempre, logo, isso se torna de maior valor. Só que não estamos mais “nas cavernas”, e esse tipo de modo de sobrevivência nos prende a coisas que nos dão mais dor de cabeça do que satisfação, como, por exemplo, relacionamentos abusivos.

Existem relacionamentos ruins. Existem relacionamentos com pessoas chatas e insuportáveis. Existem relacionamentos com pessoas ausentes, e com canalhas também. Mas se um relacionamento for consistentemente ruim, um término vai ocorrer (a menos que haja outros fatores envolvidos, mas a pessoa que decide ficar não está iludida). O problema de relacionamentos abusivos são justamente os seus altos e baixos e sua inconsistência, que vira uma prisão emocional. Você nunca sabe quando algo bom pode acontecer. Vocês brigam, e na semana seguinte vocês estão viajando. Você é chamado de inútil, mas dois dias depois recebe flores. Você apanha, mas na manhã seguinte recebe café da manhã na cama, carinho e um pedido de desculpas. As mesmas migalhas que o ratinho ansiosamente espera são as que você espera. É esperar o grande prêmio na raspadinha.

É importante entender que, se você está em um relacionamento assim, você está preso a uma ilusão. Ilusão de que as coisas vão melhorar, ilusão de que essa pessoa vai mudar. Se você sempre cede e as coisas acabam explodindo, se nunca existe uma negociação final para o caos e nada é estável, por que você acha que isso vai mudar um dia, depois da vigésima tentativa? Em relacionamentos abusivos existe uma normalização do ruim e uma supervalorização do normal e do bom.

Por último, quero deixar um aviso: provavelmente, ao tentar terminar um relacionamento abusivo, podem aparecer promessas de melhora, de procurar terapia, choro, e talvez até um pedido de casamento. Pense bem na possibilidade de todas essas promessas serem mais migalhas, quando você merece muito mais. Pense em todas as outras chances que você já deu. Imagine a sua vida como um grande jogo de raspadinhas, e seu afeto e sua dedicação como moeda de troca. Se você já gastou R$2 mil e obteve apenas R$100 de volta, quais são as chances de você ganhar o grande prêmio e tapar esse “buraco”? Outra coisa: pelo menos, dinheiro a gente ganha de volta – tempo, não. 

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O caso do Matheus, webnamoro, catfishing, golpes e às vezes pura maldade mesmo

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Vamos falar de webnamoro?

Primeiramente, não sou contra namoros à distância. Quero deixar isso extremamente claro aqui antes de prosseguirmos. Mas, com o caso do rapaz Matheus (para quem não soube da história, vou resumir: ele é do RS, de família humilde, juntou dinheiro para ver uma moça chamada Luana em SP e morar com ela – só que essa menina nunca apareceu na rodoviária para buscá-lo – Matheus passou fome na rodoviária, pois não tinha mais dinheiro, e felizmente foi socorrido por um conhecido), acho que vale a pena batermos um papo sobre isso, para tomarmos cuidado com quem nos envolvemos.

Com Facebook, jogos online, instagram, aplicativos de relacionamento, etc, é muito mais fácil encontrarmos pessoas legais, e muitas vezes essas pessoas moram longe – pode ser em outra cidade, em outro estado ou até mesmo em outro país. Relacionamentos ruins e falsidades acontecem tanto à distância quanto presencial, mas tem algumas coisas que podemos prestar atenção nos relacionamentos à distância, para ver se eles são reais ou não. Eis algumas dicas:

Relacionamento à distância requer dinheiro, de pelo menos uma das partes:
Se você é adolescente e não tem dinheiro para viagens, repense sobre a possibilidade de um relacionamento à distância. Eu sei que pode soar um pouquinho duro o que eu estou falando, mas se você só vai ter dinheiro para ver o seu parceiro pela primeira vez daqui a dois, três, cinco anos, será que vale a pena fazer esse investimento emocional? Existem exceções para todos os casos, e o seu pode ser um, mas na grande maioria isso não vale a pena.

Todo mundo pode falar por voz e por câmera:
Antes de marcar com alguém que você conheceu online, faça ligações de vídeo. Se a pessoa se esquivar disso, são grandes as chances de ser catfishing (uma pessoa fingindo ser outra). Se a pessoa só aceitar voz, existe a possibilidade de a pessoa ser do mesmo gênero, mas não ser aquela pessoa da foto.

Redes sociais e amigos:
Você já falou com amigos dessa pessoa? Familiares? Existe alguma outra pessoa que confirme que a pessoa com quem você está falando é ela mesma? (ex: que ela tem um irmão, cachorro, estuda engenharia e trabalha meio-período)

Rotina:
Essa pessoa só te atende em horários específicos? Só fala com você no vídeo de madrugada / no meio da semana no horário de almoço / de manhã? Isso geralmente indica que essa pessoa tem outro relacionamento.

Visite algumas vezes antes de ir morar com a pessoa:
Um dos problemas mais comuns de relacionamentos à distância é a mudança de imediato: conversar por um tempo pela internet e depois fazer as malas para morar junto sem nem ao menos ter visto essa pessoa uma única vez antes. A verdade é que você só conhece a pessoa DE VERDADE passando um tempo com ela. Por isso mesmo, um relacionamento à distância requer um investimento financeiro – faça algumas viagens, e fique um tempo convivendo com essa pessoa – de preferência um tempo razoável, tipo algumas semanas.
Se você se mudar de primeira, a surpresa pode ser boa, e pode ser que aconteça o que você imaginava, mas também pode ser o inferno na terra, e para sair disso pode ficar um pouco (muito) complicado.

Uma grana extra durante as viagens:
Mais uma vez, namoro à distância requer dinheiro. Tenha um extra para um quarto de hotel caso as coisas venham a dar errado e você não consiga adiantar a sua volta.

Para viagens caras, um presentinho antes pode ser legal:
Talvez seja interessante conferir se a pessoa mora mesmo naquele lugar onde ela diz que mora antes de você fazer a viagem. Mande um presente, uma carta, qualquer coisa para o endereço dela. Se ela receber, ótimo – e você ainda mandou um carinho “não digital” para ela.

Confirmado o endereço, avise para alguém de confiança para onde você vai:
Nunca vá conhecer uma pessoa sem avisar a alguém para onde você vai (isso vale para encontros com estranhos até no seu bairro, ok?). Passe o endereço para alguém de confiança, pois se acontecer algo ruim, você poderá ser localizado.

Não mande conteúdos pela internet que você pode se arrepender depois:
Não mande dados bancários, senhas, fotos “quentes”, etc. Cuidado com a idealização – o quanto que você realmente sabe que essa pessoa é confiável, e o quanto que é você romantizando a situação?

Por mais que a gente queira que tudo dê certo, nem sempre as coisas são o que parecem ser. Prevenir é melhor do que remediar.

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Abuso Reativo – O que é, e como narcisistas (e manipuladores em geral) se aproveitam disso

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Abuso reativo é a reação ao abuso cometido por uma ou mais pessoas. Imagine o seguinte: o seu parceiro te insulta, te empurra, te controla por dias seguidos. Semanas. Meses. Você vai segurando, segurando, segurando. Uma hora você quebra – afinal, ninguém é de ferro. Você revida, insulta ou agride o manipulador. Isso é o abuso reativo.

Com a definição já estabelecida, vamos para a parte complexa, a dinâmica:

Abusadores vêem o abuso reativo como um prato cheio, e usam o seu momento crítico para fazer gaslighting e te tornar o vilão da história. Quando você finalmente explode, o abusador geralmente diz coisas como:
-Você está agindo como um maluco!
-Olha o que você faz comigo. Você é um monstro!
-Você é doente, não está bem da cabeça!
-Você precisa tomar o seu “remedinho”
-Viu o que eu tenho que aturar?
(resumindo, voltam a culpa de tudo para você)

A vítima, que já está fragilizada por estar numa situação com um manipulador emocional por um tempo, se culpa, e diz que não sabe o que aconteceu com ela, que ela se tornou um monstro. Nos olhos dela, ela é a abusadora da história. E para o real abusador, isso vira munição para qualquer momento, inclusive como desculpa para novas agressões do mesmo e para segurar a vítima no relacionamento.

Uma observação aqui: De forma alguma estou dizendo que explodir e reagir de tal forma está certo, mas é uma reação compreensível (porém, mais uma vez, errada) para o contexto. Situações anormais geram comportamentos anormais.

Se você parar para perceber, se conseguir se distanciar da situação, verá que os manipuladores emocionais gostam dessa reação da vítima. Não somente pelos motivos acima citados, mas também porque enquanto eles são os únicos que atacam, eles sabem que estão perdendo e que estão errados. Quase todo manipulador pára de atacar somente quando a bomba explode, porque é aí que ele pode usar seu papel de vítima. É nesse momento que o relacionamento tem um pequeno momento de sossego, para retomar a dinâmica de conflito logo depois.

Em casos assim, quando a própria vítima se sente como se fosse a vilã, como identificar quem é o abusador e quem é a vítima? Existe possibilidade de abuso mútuo?
Abuso mútuo é extremamente raro (ou inexistente, de acordo com alguns pesquisadores).
A vítima tende a se culpar por tudo, por todos os atos que cometeu, e os vê como inadmissíveis, enquanto o abusador raramente admite culpa, e, quando admite, cria um motivo para a sua ação – isto é, o velho “eu te agredi sim, MAS…”. No discurso de desculpa do manipulador emocional há uma diminuição da culpa dele(a) e uma acusação sutil para o lado da vítima.

Manipuladores emocionais e problemas psicológicos/diagnósticos:
Outra maneira que os manipuladores controlam a situação é com problemas mentais: se o abusador tem um diagnóstico ou trauma, ele o usa como desculpa para os abusos (“eu tenho problemas e você vai ter de entender que sou assim”). Para a vítima, a balança tende para o outro lado – os remédios não estão funcionando, a terapia não está funcionando, a pessoa é maluca (e o abusador é um anjo por aturar tudo o que ele atura) etc. No entanto, quando o abusador REALMENTE vê que está perdendo o poder, ele pode dizer que precisa trocar o remédio/fazer terapia, e que ele vai melhorar (leia este texto aqui).

Voltando o assunto para as vítimas:
Se perdoe pelos comportamentos errados, e se comprometa a não reagir mais de maneira agressiva. Volte nos momentos onde você reagiu ao abuso, e veja o que você poderia fazer de diferente. Realmente se imagine nessas cenas, refazendo-as da forma certa.

Se você se transformou em uma pessoa que você não é e nem quer ser nessa relação, reflita sobre como você era antes de isso tudo acontecer. E reflita também sobre o seguinte: se você se transformou em um ser tão diferente (e agressivo) para sobreviver com essa pessoa (ou não ser completamente engolido(a) por ela), vale a pena continuar?

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Análise do filme Swallow (2019 / 2020)

SWALLOW

Swallow conta a história de Hunter, uma mulher que a grande maioria das pessoas julgaria ter uma vida “muito boa”. No entanto, isso é bem superficial. Conforme vamos assistindo o filme, percebemos que Hunter vive uma vida vazia e falsa: ela é constantemente ignorada pelo seu noivo e pela família dele, e dá para ver que aquele mundo (inclusive suas roupas) não é seu. Ela tenta se encaixar para ser amada, mas de nada adianta. Além disso, acredito que a questão da segurança financeira a segure no relacionamento com seu noivo ausente, pois ela não conseguiu nenhum emprego na área que queria e acabou trabalhando como vendedora até encontrar o rapaz.

Hunter logo descobre que está grávida. Conta ao noivo, que fica muito feliz, mas vemos que a própria Hunter não está feliz. Está fingindo felicidade quando necessário. Vemos isso até quando um dos colegas de trabalho de seu noivo lhe dá os parabéns, e ela não se liga no que ele está falando de imediato.

E é logo depois da descoberta dessa gravidez que as coisas começam a sair do controle para Hunter. Primeiramente, ela engole uma bola de gude. Depois, outros pequenos objetos são ingeridos conforme os dias passam. Nisso, parece que o humor de Hunter começa a melhorar um pouco toda vez que ela engole algo que não deveria.

Ao fazer um exame por conta da gravidez, descobre-se que tem uma pilha em seu corpo – o último objeto ingerido. Por conta disso, ela vai direto para a sala de cirurgia. Seu noivo fica extremamente irritado com toda a situação e a manda para uma psiquiatra, e todos os passos  de Hunter começam a ser vigiados por um enfermeiro contratado pela família dele.

Aos poucos, Hunter se abre para a terapeuta. Em um certo momento ela fala que engolir esses objetos lhe traz uma sensação de controle – coisa que obviamente falta em todo o resto de sua vida. Aliás, antes dos objetos, ela engolia muito desaforo e descaso. Em outra sessão, ela menciona que ela não é filha de seu pai, e que sua mãe foi estuprada. Por conta da origem conservadora, sua mãe decidiu manter a gravidez. Hunter diz que ainda assim ela é muito amada por todos de sua família.

Logo descobrimos que a psiquiatra foi comprada pelo marido. Em uma ligação, ela fala sobre o estupro para ele (o que deveria ser confidencial) e o avisa que Hunter está em perigo. Nesse momento, quando achamos que vai acontecer uma mudança de afeto, de que ele vai se importar mais com sua noiva após essa descoberta, nos deparamos com uma cena do rapaz indo para a academia e oferecendo comprar “qualquer coisa” para Hunter, sem conversar com ela. Hunter fica extremamente frustrada pois ouviu a conversa dos dois e acaba engolindo mais um objeto quando escapa do controle do enfermeiro, que estava adormecido. Essa foi a gota d’água para a família, que fala que ela precisa ser internada, e que ela não tem escolha. Hunter, que está sempre engolindo tudo que vem dos outros, assina o contrato, mas acaba fugindo pela janela de casa com o auxílio do enfermeiro, que começa a ter empatia por sua situação.

Ela liga para a mãe, que prontamente a recusa. Então, se hospeda em um hotel e consegue encontrar o endereço de seu pai verdadeiro, o estuprador. Ela invade a festa de aniversário da (outra) filha dele, e, em um certo momento da conversa, ele fala o que ela tinha que escutar: que ela não era ele, e que ela não fez nada. Nisso, Hunter tem seu “estalo mental”. Na próxima cena, vemos que suas roupas combinam mais com seu ser, a sua imagem está mais harmoniosa, honesta. Ela vai à uma clínica de aborto, e, no último instante do filme, vemos uma Hunter que parece genuinamente ela mesma, e genuinamente feliz (ou pronta para ser).

Na minha opinião, Swallow é um filme muito bom, que mostra como a nossa história nos faz repetir padrões (neste caso, uma gravidez indesejada), como uma família tóxica afeta a nossa auto-estima a ponto de nos perdemos na vida, que a somatização de problemas pode ser extremamente simbólica (Hunter foi de “engolir sapos” totalmente fora do controle para engolir objetos como forma de controle) e que todos podemos ter um recomeço, abandonar tudo de ruim e sermos felizes, não importa em que ponto estamos na nossa vida.

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Dica de filme: Gaslight (1944)

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Gaslight conta a história de Paula Alquist, que se casa com Gregory Anton. Os dois se mudam para a casa de sua tia (que era praticamente uma mãe para Paula), que foi assassinada tempos atrás. Sendo assim, Paula volta para o lar onde passou sua infância, em Londres.

Aos poucos, Paula começa a esquecer algumas coisas, perder outras… Além disso, ela começa a ouvir sons durante a noite, e as luzes de casa diminuem quando ela está sozinha (as luzes naquele tempo eram à gás, então quando alguém acendia uma luz a mais, consequentemente, as chamas já existentes diminuíam um pouco). Paula comenta tudo isso que está acontecendo para o seu marido, que diz que ela “não está bem”. Logo, ela começa a questionar a própria sanidade.

A origem do termo “gaslighting” que usamos hoje em dia vem desse filme (existe também uma peça de 1938 e um filme de 1940 com o mesmo nome e tema, porém o filme de 1944 é o mais conhecido de todos). Assim como Paula, vítimas de gaslighting são manipuladas, forçadas a se questionarem sobre suas memórias, sentimentos e ações. No filme, Gregory cria diversas “cenas” para Paula acreditar que ela está ficando doente: desde pegar objetos sem a esposa perceber, sumir com eles, e depois jogar a culpa em Paula, até mexer nas luzes e fazer barulhos no teto, dizendo que nada aconteceu e que ele estava na rua no momento. Podemos também ver uma manipulação verbal desde o começo, quando Gregory fala que ela é esquecida, ou que ela está agindo de forma irracional.

Além das manipulações mais específicas que podemos chamar nos dias atuais de “gaslighting”, Gregory também faz uso das seguintes táticas no filme:

Isolamento social: Paula nunca estava se sentindo bem para receber visitas ou ir a eventos. Isolamento é fundamental para esse tipo de abuso acontecer – afinal, quanto mais pessoas perto de você, mais difícil será de abalar o seu senso de realidade.

Transformar conhecidos em inimigos (criar rivalidade): As únicas pessoas constantemente presentes na vida de Paula eram suas empregadas (além do marido, claro). Gregory distorcia situações para as duas mulheres verem Paula de uma forma negativa. Um exemplo: Gregory falou para Paula chamar uma das ajudantes para colocar mais carvão no fogo, pois era tarefa delas. Paula diz que não queria dar trabalho desnecessário às moças, e que ela mesma poderia fazer isso. Gregory insiste, e então Paula toca o sino da casa. Quando uma das empregadas chega ao cômodo, Gregory prontamente fala que foi Paula que pediu para ser atendida.

Enfim, o filme é bom, e mostra como pequenas manipulações diárias podem fazer um estrago em nossa vida, ao ponto de questionarmos nossa sanidade.

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Remorso ou Arrependimento? E por que isso importa? O pedido de desculpas em um relacionamento abusivo

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Você sabe a diferença entre remorso e arrependimento? Não se trata de palavras que são sinônimos, nem de diferença em finesse; isto é, não é o caso de uma palavra ser semelhante à outra, porém mais chique, mais refinada.

Remorso é um sentimento empático, uma tristeza por ter magoado o outro. É realmente entender o que você fez com a outra pessoa; é sofrer por ter machucado alguém. Já o arrependimento tem a ver com uma tristeza egoísta, uma tristeza relacionada à consequência que foi causada para si. Ambos os sentimentos podem gerar lágrimas, rosto vermelho e inchado, porém por motivos muito diferentes.

Vou dar um exemplo. Imagine essa cena num relacionamento:

Um rapaz deu uma cantada na amiga da namorada (vamos deixar de lado a sem-vergonhice e se você aceitaria isso ou não). A namorada ouviu, brigou e ameaçou terminar, e então ele, desesperado, pediu desculpas.

Num caso de remorso, essas desculpas têm a ver com o fato de que ele viu que o que fez foi extremamente errado, e entendeu a dor de sua namorada. Como o rapaz interiorizou a dor, ele provavelmente não cometerá o mesmo erro.

Já num caso de arrependimento, esse rapaz pede desculpas, mas foi por conta da consequência: sua namorada descobriu, e ele corre o risco de perdê-la. Sendo assim, ele pede desculpas para voltar ao status normal do relacionamento, e não porque magoou a sua parceira. Possivelmente, ele vai cantar alguém de novo (talvez com mais “cautela” numa próxima vez), porque o que o rapaz não gostou foi da consequência do ato, não do ato em si. Ele não interiorizou a dor da namorada.

Resumindo essa situação em particular: no remorso, os pensamentos são “não quero mais magoar a minha namorada” e “quero ser uma pessoa melhor para ela”, enquanto no arrependimento o pensamento é “não quero perder a minha namorada”. Nós podemos até entender que no primeiro caso, o rapaz trata a namorada como um ser com sentimentos, enquanto no segundo caso a parceira vira um “objeto”.

E aí a gente pode pensar em casos de traição em que a pessoa encontra provas ou até mesmo pega o outro no flagra: o parceiro está pedindo desculpas porque foi descoberto, ou porque realmente viu que o que fez foi errado? Se não tivesse sido descoberto, pediria desculpas? Repetiria o ato?

De qualquer forma, não estamos aqui para falar sobre traição em específico, e sim sobre relacionamentos abusivos e suas desculpas falhas e superficiais.

Pessoas abusivas têm uma dificuldade extrema para pedir desculpas. Geralmente, essas desculpas só aparecem quando a pessoa está em “risco”, quando ela não está mais no poder. Isto é, essa pessoa pode estar em risco de perder um relacionamento, um privilégio, um trabalho. O arrependimento é relacionado ao sentimento de medo, não de tristeza. Quando ela não vê risco de perda, as desculpas geralmente não aparecem, e podem até podem virar munição: “você me fez fazer isso”, “você também faz isso”, ou sua reclamação ou seu óbvio descontentamento são ignorados.

Agora, quando essa pessoa está em risco (de perder seja lá o que for), ela pede desculpas. Desculpas pelo quê? Pelo o que ela fez com você? Não. Pela consequência ou possível consequência do ato dela. Pelo medo. E aí o que acontece depois? Quando essa pessoa retoma o “poder” (isto é, quando o risco cessar), o abuso volta.

Sendo assim, vamos pensar em um relacionamento amoroso: o parceiro que é abusado chega no limite, e o abusador pede desculpas e começa a se comportar, pois o rompimento é um risco naquele momento. Alguns dias, semanas ou meses (dependendo da dinâmica do casal), o parceiro abusado se vê mais calmo, o risco de término some, e o abuso volta. Por quê? Porque eram desculpas por medo; era arrependimento. Não houve tristeza internalizada, não houve empatia com o parceiro abusado; não houve remorso.

Logo, o que temos que nos questionar é: a pessoa que está te pedindo desculpas está sentindo remorso ou arrependimento? Você consegue sentir uma tristeza genuína em relação aos seus sentimentos, ou seria uma tristeza voltada para as consequências causadas para ela mesma? Essa pessoa te pergunta como pode melhorar, ou inventa desculpas (incluindo histórias tristes) para o ato? Ela quer te ver feliz, ou quer ela mesma ficar feliz com a reparação? Ela vê o seu lado, de verdade? Se essa pessoa repete o mesmo erro várias vezes ciclicamente, o que você espera que aconteça na próxima vez que a poeira baixar? E na outra?

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Paralisia do perfeccionismo

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Hoje decidi me abrir para vocês, e falar sobre um problema que me afetou bastante por um bom tempo, e que vejo que afeta muita, mas muita gente: a paralisia causada pelo perfeccionismo.

Eu estava com a ideia fazer de um podcast faz tempo, muito tempo mesmo, e a ideia ficou ainda mais forte durante a pandemia. No entanto, toda vez que eu sentava na cadeira para pensar em um tópico, eu acabava fazendo qualquer outra coisa que não fosse trabalhar nisso. E nisso, passaram-se muitos, mas muitos meses.

Sempre era alguma coisa no caminho: cursos, vídeos, livros que eu queria ler, séries, até dar uma volta rua estava valendo. E qual era o grande problema para mim? Produzir algo bom. Eu queria trazer para vocês um conteúdo de qualidade, eu queria que, seja lá qual fosse o tópico, eu pudesse ajudar vocês da melhor forma possível.

Só que essa “melhor forma possível” para mim, pelo menos inconscientemente, era algo que estava quase inalcançável. Na verdade, eu acho que estava inalcançável. E aí, vendo que o conteúdo que eu queria passar na qualidade que eu queria passar era inalcançável, eu procrastinava.

Eis algo interessante sobre a procrastinação. Muitas pessoas acham que a procrastinação só acontece quando não queremos fazer algo. Mas a verdade é que existe um tipo de procrastinação que acontece quando a gente realmente quer fazer algo, mas se sente incapaz. É o perfeccionismo nos paralisando, e não deixando dar os passos que a gente precisa dar.

Aliás, precisamos falar sobre o termo perfeccionismo. Perfeccionismo não é dar o seu melhor. Nós sempre temos que dar o nosso melhor. O perfeccionismo é um escudo contra julgamentos dos outros. É aquela ideia de que temos que fazer tudo absolutamente perfeito, pois assim não seremos afetados por críticas. E nisso, a gente tem dois problemas:

Primeiro que não existe perfeição, muito menos sem prática. Sempre haverá alguém para te criticar. E sempre haverá alguma maneira de melhorar também. E justamente porque sempre existe espaço para melhorar, se você está esperando a versão perfeita do seu produto ou seja lá o que for, você nunca vai lançar. O perfeito não existe, e essa ideia nos prende, nos paralisa.

Se você olhar para as pessoas de sucesso, sejam escritores, apresentadores, artistas, empresários, você vai ver que todos eles começaram de um ponto e cresceram a partir daí. E eu sei que é difícil colocar algo no mundo nesse momento, onde tudo parece perfeito no instagram e no facebook, mas acredite, tudo precisa de um começo. Pense o seguinte: se o seu artista favorito não tivesse se arriscado, ele não teria crescido na vida e não teria se transformado no seu artista favorito! Todas as pessoas que conseguiram sucesso erraram em algum momento, e se você não se permitir errar e crescer, você simplesmente não vai sair do lugar. Todo profissional começa como amador. Um escritor famoso não nasceu já escrevendo best sellers, tudo contou para esse escritor chegar onde está agora, inclusive seus textos que ainda escrevia no colégio, e até os textos que foram recusados por alguma editora. Tudo conta. Pense em progresso, não em perfeição.

Quanto mais você produz, mais você se desenvolve. Vou dar um exemplo: João pintou um quadro em um ano. E realmente, o quadro era muito bom (apesar de que talvez João não pensasse dessa forma). Ele demorou um ano inteiro porque toda vez que ele começava, ele não terminava, pois sempre tinha algum problema, tinha sempre algo errado, aí ele parava e recomeçava logo depois de começar. Já Luiz pintou dez quadros em um ano – e eram quadros bons também, talvez não tão bons quanto o quadro de João, mas muito bons.

E quem é que ganha nessa história? Luiz ganha nessa história. Por quê? Porque ao invés de congelar e não produzir, Luiz trabalhou nas suas artes e se desenvolveu muito mais que João no final das contas. Apesar de não ser inicialmente tão talentoso quando João, ele ganhou muito mais prática nesse um ano.

Então, gente, o que é que eu quero dizer com isso: vamos deixar essa procrastinação e esse medo de lado, e botar a mão na massa. Não é semana que vem, não é ano que vem, é agora. O seu futuro é agora. Não deixe sua autocrítica extrema te impedir e te sabotar de fazer o que você quer fazer.

E para quem quiser me ver (ou melhor, ouvir) pôr a mão na massa, a versão áudio desse texto se encontra aqui.

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O que é um bom amigo?

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Parece que todos crescemos com a ideia de que os nossos melhores amigos são aqueles que estão sempre presentes, sempre ali do nosso lado. Talvez isso seja algo que venha com a gente desde o tempo de escola – afinal, nós víamos os nossos colegas todos os dias. Chegamos aos vinte e tantos, depois do período de faculdade/curso, e às vezes nos perguntamos para onde todos nossos amigos foram. Fomos abandonados? Será que não dar bom dia todos os dias é realmente um sinal de falta de afeto com você? Será que não ver nossos colegas pelo menos uma vez por semana significa fim da amizade? E esses seus amigos que estão sempre presentes na sexta-feira para uma cerveja? Será que esses são os seus amigos verdadeiros? Se amizade pudesse ser calculada, com certeza não seria uma soma simples, mas sim uma equação cheia de variáveis.

Sendo assim, celebrando o dia deles que está para vir, fiz uma lista de coisas para você pensar (e repensar) sobre seus amigos:

Amigos de verdade estão presente nos tempos bons e nos tempos ruins
É comum ouvirmos para termos cuidado com quem só aparece quando tudo está bom, mas é importante também adicionar o oposto: cuidado com quem só está presente quando tudo está ruim. Existem pessoas tóxicas e invejosas que somem nos momentos de celebração. Portanto, seus amigos verdadeiros irão celebrar com você e te ajudar em tempos difíceis.

…mas isso não significa o tempo inteiro
Todos temos trabalho, estudos, filhos, marido/esposa, projetos… Não estar presente em todos os momentos não significa falta de amizade ou descaso. No entanto, você vai reconhecer um amigo de verdade quando, mesmo distante, ele aparece para te apoiar e te ajudar quando você precisa. Não confunda presença constante/grude com amizade. Mandar GIFs de bom dia com uma rosa e/ou gatinhos diariamente não significa absolutamente nada.

Amigos sabem receber não
Seus amigos respeitam seus próprios limites, e respeitam o seu. Alguém que exige que você aceite tudo o que é pedido, e se você disser um “não” o inferno sobe à Terra ou essa pessoa pára de falar com você por conta disso, preciso dizer que isso não é amizade saudável, e sim uma amizade tóxica e abusiva. E você, sabe dizer não e receber não?

…e eles têm palavra
Uma coisa que você deve prestar atenção em qualquer pessoa são as promessas (e qualquer tipo de acordo/combinado) que são feitas. Pessoas que falam uma coisa e fazem outra não são amigas. Se você não pode confiar na palavra de alguém, você não pode confiar nesse alguém, seja lá para o que for. Mentiras, “bolos” e quebras de promessas constantes são um grande indício de amizade falsa (e de desrespeito com você). Cuidado com amizades que prometem muito, e fazem pouco. Melhor ter uma amizade que promete pouco e cumpre o que fala.

Amigos verdadeiros não vão concordar com você sempre
Eles dão puxão de orelha quando você merece, e a sinceridade é prioridade. Quem sempre concorda com você, não importa o que você faça, está muito provavelmente alimentando comportamentos que você não deveria ter. Às vezes amigos falam coisas que você não quer ouvir, mas é para o seu bem. Eles querem que você melhore como pessoa – e isso sim é cuidar de alguém.

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Trancafiados: como sobreviver em paz com o seu parceiro e com a sua família durante a quarentena

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Nessas últimas semanas a situação do país ficou complicada em vários aspectos. A insegurança em relação ao futuro está batendo nas nossas portas, ao mesmo tempo que bate uma sensação de impotência – afinal, precisamos ficar em casa. A quarentena mudou a rotina de todos, e, por mais que gostemos e amemos as pessoas com quem moramos, ficar debaixo do mesmo teto 24h por dia pode ser bem frustrante. Precisamos de “ar fresco” de vez em quando, e todas as restrições estão deixando as nossas interações mais difíceis, exponencializando os problemas que antes eram pequenos ou talvez sequer existentes. Por isso, vale a pena se atentar a algumas regras de boa convivência que já seriam importantes no dia a dia normal, mas são muito mais importantes agora:

Tempo junto e tempo separado:
O tempo junto com seu parceiro é fundamental, mas o tempo separado também. Quando estamos trancafiados dentro de casa, esse tempo pode se tornar difícil de conseguir. Dê um espaço para seu parceiro trabalhar ou fazer o que for do interesse dele, e faça o mesmo. Caso isso não venha naturalmente entre vocês, considere separar horários específicos para atividades individuais.

Bom humor:
Bom humor sempre foi importante, mas é fundamental agora. Tente ver as coisas de uma forma positiva, afinal, trazer mais negatividade para dentro de casa no momento em que vivemos não é necessário. Desligue um pouco a sua mente das tragédias, e veja algo que lhe faz bem. Ria junto com as pessoas que você ama. Veja séries, jogue jogos de tabuleiro. A situação está séria, mas você pode viver a sua vida em casa de uma maneira mais positiva.

Preste atenção nos seus comportamentos e reações:
Muitas vezes alimentamos conflitos apenas porque não estamos completamente presente no momento, agindo impulsivamente. Estando em casa o tempo inteiro, sem um momento para respirar, isso pode se tornar catastrófico. Reflita mais, reaja menos.

Caso haja uma briga, dê uma pausa para respirar:
Isso não significa ficar mudo e ignorar seu parceiro – jamais faça isso. Literalmente peça um tempo para você. Quando estamos no calor do momento tendemos a dizer muita coisa que não precisamos, que não são construtivas, muito pelo contrário. Você vai ver que se você parar um pouco para refletir e esfriar a cabeça, evitará muitos problemas.

Assuma seus erros e peça desculpas:
Muitas vezes respondemos à uma reclamação com outra, fazendo um bate e volta, para esquivarmos dos nossos erros. Isso não é construtivo e pode gerar uma briga desnecessária. Assuma seu erro, peça desculpas e não puxe problemas do passado. Seja mais responsável, e talvez você vire um bom exemplo para o seu parceiro também.

Dê o benefício da dúvida:
Vilanizamos o comportamento das pessoas ao nosso redor constantemente. Procuramos motivos para fulano ter feito isso ou aquilo. Um esquecimento pode ser facilmente interpretado como uma pequena vingança. Isso cria um ambiente tóxico e um efeito bola de neve, pois obviamente traz frustração para o acusado, que pode responder da mesma forma. Tente entender a situação ao invés de ver tudo com uma pitada de crueldade.

Tenha empatia, e deixe discussões desnecessárias de lado:
Estamos tendo muitas divergências políticas com amigos e parceiros, e muitos chegam à um nível passivo-agressivo para tentar mostrar que o seu lado está certo. Você não vai convencer ninguém, então deixe de bobeira, pois isso pode custar muito caro no final. Lembre-se que independente da visão política do seu parceiro ou dos seus familiares, todos querem que a epidemia suma o mais rápido possível, e ninguém quer mais tragédia. Tenha empatia com as pessoas próximas, assim como você quer que as pessoas tenham com você. Desafiar a visão das pessoas já é ruim em tempos normais, e fica dez vezes pior quando somos desafiados em confinamento, sem ter para onde ir para evitar conflito.

Gratidão:
Nós nos acostumamos muito rápido com as coisas boas, especialmente aquelas que acontecem todos os dias em nossa casa. Nossa adaptação hedonística faz com que vejamos tudo que é bom rapidamente como normal e costumeiro, o que causa uma certa ingratidão da nossa parte. Agradeça ao seu marido quando ele lavar a louça, ou à sua mulher quando ela der banho nas crianças. Todos queremos nos sentir valorizados, especialmente em nossos lares. Lembre-se: quando nos sentimos valorizados pelos nossos atos, tendemos a repetí-los.

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