Traição: Quando perdoar?

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Não estou aqui para dizer o que é certo ou errado, e quais são seus limites. Se você não aceita nenhuma traição e quer sair do relacionamento, esse texto não é para você. Estou escrevendo para quem se pergunta se realmente vale a pena dar uma (ou mais uma) chance.

O mais grave da traição não é o ato sexual, mas sim a quebra de confiança que a traição causa. Muitas vezes essa quebra de confiança não consegue ser ultrapassada, e o término acontece. Só amor não é o suficiente para manter um relacionamento, precisa haver confiança. Confiança é a cola do relacionamento.

Relacionamentos envolvem promessas: promessa de que você está com uma pessoa e mais nenhuma outra (no caso dos relacionamentos fechados). Quando essa promessa é quebrada, a confiança se desintegra. Sem confiança, a intimidade e a comunicação acabam. O casal acaba se distanciando. Hostilidade toma o lugar do carinho, e o relacionamento aos poucos se torna tóxico, e pode vir a acabar. Porém, se ambas as partes quiserem, a reconstrução do relacionamento PODE ser atingida, especialmente com a ajuda de terapia, que, nesse caso, se vê muito necessária. A terapia ajuda trabalhando nos problemas de comunicação, na confiança quebrada, na mágoa e na raiva causadas pela traição.

Para a reconstrução de um relacionamento, todas as cartas devem ser postas na mesa. Traição é um problema do casal, não de somente uma das partes. A verdade deve ser dita, por ambas as partes. Quem traiu não deve esconder o que fez, o motivo que levou a fazer isso (isto é, o que lhe falta no relacionamento) e aceitar sua culpa, assim como quem foi traído deve dizer o que precisa para sua confiança no parceiro voltar. A confiança não irá voltar facilmente, nem deve. O parceiro traído foi manipulado e escutou mentiras. A confiança deixa de ser garantida e cega para ser ganha, aos poucos; é um processo lento, que requer trabalho e dedicação.

Mas, quando é que todo esse esforço é realmente necessário? As chances de um casal ficar bem após uma traição são razoáveis, com o esforço de ambos, caso estejam interessados. Mas o que falar de múltiplas traições? E de traições que foram descobertas pelo parceiro, e não admitidas pelo outro? O ponto que quero chegar aqui é que vejo muitas vezes no consultório situações em que a “vítima” se cega para a realidade. O amor realmente cega às vezes. Qual é a responsabilidade da vítima numa situação assim? Uma das coisas mais difíceis de se fazer é olhar para si mesmo e ver qual parcela de culpa temos por nos colocar nas situações que acontecem conosco. Será que o parceiro nunca mostrou nenhum sinal infidelidade antes ou nós é que tampamos nossos olhos até o último instante? O que essa situação toda diz sobre nós mesmos? O que faz nós irmos ao consultório para “nos consertar”, para aceitarmos uma relação de monogamia repetidamente desrespeitada? O que nos impede de olhar para fora da relação e ver uma nova vida? É o medo de ficar sozinha(o)? É por causa do “bem” da família? É a incerteza do futuro? Essas são perguntas importantes que devem ser respondidas antes de dar mais uma chance a parceiros que traem repetidamente. A habilidade de perdoar é algo louvável, mas nem sempre é a solução.

Paula Monteiro
Psicóloga clínica
psicologapaulamonteiro @ gmail.com
(21) 99742-7750